terça-feira, 29 de julho de 2014

CORAÇÃO LOUCO, por Tádzio Nanan

Coração louco, pulsando descompassadamente, sem decifrar o que sente, coração de homem feito refém do assustado menino de outrora, o menino subjugando o homem de agora
Aventuras tamanhas, desventuras tamanhas, e um coração tão frágil, cheio de melindres, de poucas ousadias, de poucas esperanças, coração de soldado vencido, entregue às mãos do carrasco, na marcha para longos anos de esquecimento
Um coração sem rumo ou propósito, pulsando à toa, triste depósito de amarguras, duras são as horas que o coração pulsa solitário, por causa nenhuma, por ninguém, na espiral de emoções conflituosas, afogando-se nas intempéries das próprias idiossincrasias
Coração selvagem, incivilizado, companheiro das altas solidões, dos duradouros silêncios, da rústica simplicidade, coração meio de bicho, esgueirando-se, escondendo-se nas matas da selva de pedra da civilização, dividido entre o chamado da natureza e a beleza do discurso e os encantamentos da palavra
Coração selvagem, mas, contraditoriamente, melodramático também, sentimental coração latino-americano, asfixiado nas paixões clandestinas que inventa para si
Coração, meu arredio coração, ainda na ignorância de si mesmo, na escuridão que incautamente teceu para si, na escuridão e na ignorância, pulsando, pulsando descompassadamente, tão pouco coração e tanta vida!


segunda-feira, 28 de julho de 2014

O ÓDIO, por Tádzio Nanan


O ódio respira pelos olhos do odiento, que ardem em chamas e crivam seu objeto com raios fatais de pura maldade. O ódio se nutre da imagem do objeto odiado e assim se robustece, se solidifica, tornando-se muralha intransponível para o afloramento dos bons sentimentos. Quanto mais odiamos menos amor temos a oferecer aos outros. Ódio e amor são mutuamente excludentes. O ódio é exclusivista. É ele e mais nada. O ódio cresce na garganta, sobe para a língua, explode pela boca, e se torna verbo, palavras malévolas, maledicentes, cantos noctíferos, que espalham sombras e noites. O ódio é força da natureza quando assume os braços, as mãos, do odiento, e promove a destruição que tanto almeja, à força, com golpes implacáveis, irreversíveis.
Quanto mais fracos somos mais forte ele se configura, e se somos uma nulidade moral ele se torna infinito, torna-se nossa segunda pele, ou mais que isso, nosso lar, passamos a morar nele, escondemo-nos covardemente debaixo de sua asa negra, ele nos protege, acarinha, e escancara as portas para nosso lado escuro. O problema com o ódio é que é gostoso senti-lo queimando nas veias, é narcótico poderoso, vicia, e passamos a adorá-lo como um deus nefasto, e erguemos sua catedral negra e viramos devoto, discípulo dele, e assim caímos em sua armadilha, porque ele passa a nos orientar a vida, guiar nossos pensamentos, atos, palavras. Ele nos quer escravos.
Quando a vida perde o sentido, muitas vezes, o ódio empresta-lhe um, dá-lhe significado, ainda que o preço cobrado seja alto e venha mais adiante, na forma de uma morte prematura, ou na forma de uma longa vida amesquinhada e medíocre, mantida por ele e para ele, a serviço dele, dedicada a ele. O ódio dorme sob a sombra da nossa consciência, da nossa humanidade e prega o desassossego, a discórdia, o tumulto, é vulto que nos acompanha de perto, sorrateiro, prestes a dar o bote quando nossa imunidade moral fraqueja. O ódio é como um vírus que se apossa do nosso corpo para reproduzir-se contaminando cada vez mais gente para seu exército de dementes, de furiosos, de desesperançados. O ódio é obsessivo, paciente e resoluto, ele odeia seu objeto com constância invejável, não faz concessões, não sente empatia, não diminui sua marcha para a catástrofe, instilando seu veneno em toda e qualquer oportunidade, e se regozijando disso.
Um homem forte não sente ódio, o ódio é para os fracos e covardes, o odiento não pode sentir amor por ninguém, porque o ódio denigri e depaupera o amor, fulano não ama cicrano, fulano odeia beltrano, o ódio é uma mácula no coração de qualquer um, aliás, quem sente ódio não tem coração tem qualquer coisa sombria no lugar, uma pedra, um vazio, um grito, uma noite, bombeando pelo corpo raiva, invídia e vingança. O ódio é a coisa mais relevante na vida do odiento, não deixa espaço para mais nada, o ódio triunfa sobre tudo. O ódio é rei.

Muito cuidado com o ódio que ele vai te roubar tudo: caráter, consciência, humanidade, teus sonhos também (e tu passarás a sonhar os pesadelos dele). Cuidado, muito cuidado mesmo, com este pequeno ódio que alimentas contra alguém (e ingenuamente te delicias com isso), porque a vocação do ódio é crescer, crescer rápida e esmagadoramente, e consumir, consumir tudo, insaciavelmente. Até te consumir, até te engolir inteiro, num vórtice de tragédia e desespero!

domingo, 27 de julho de 2014

MEU LANCE!, por Tádzio Nanan


Meu lance não é dinheiro, é sossego
Vai tu, meu irmão, procurar emprego

Meu lance não é a cama, é a rede
Não tenho esse tipo de fome, esse tipo de sede

Meu lance não é o estudo, é a contemplação
Prefiro a sabedoria à metódica reflexão

Meu lance não é enfrentar, é fugir
Meu lance não é acordar, é dormir

Meu lance não são as amizades, mas a solidão
Três almas juntas pra mim é confusão

Meu lance não é o conflito, é a anuência
Não entro em jogos de influência

Meu lance não é o movimento (movimento basta o da Terra), é relaxar
Só de olhar os outros correndo fico sem ar

Meu lance não é alimentar duvidas, é ter certezas (ainda que pequenas....)
E com elas vivo uma vida serena

Meu lance é desaparecer, ficar escondido
Meu lance é esquecer e ser esquecido

PEQUENO POEMA DE ANIVERSÁRIO - para meu pai, por Tádzio Nanan

NANAN

Nanan, nosso protetor
Inabalável fortaleza de amor

Nanan, nossa orientação
O vento, as estrelas, a intuição

Nanan, nossa sintonia
Com os ideais de honra e valentia

Nanan, nosso professor
A palavra, o gesto, o suor

Nanan, nosso campeão
Braço, mente, coração

Nanan, nossa alegria
Que bom tê-lo aqui todo dia

Feliz aniversário
09/07/2014