domingo, 31 de julho de 2016

Apocalipse - III, por tádzio nanan

Depois, o silêncio ressoou outra vez.
Depois das paixões, a indiferença.
Depois do abscesso, a higidez.
E a solidão maior e a mais intensa.
Depois dos afetos vertidos em arte:
O superior elemento do homem;
E do cogito, ergo sum de Descartes,
Tudo jaz sono, silêncio, ontem.
Só, Ele revê a tudo, sem saudade.
O quanto fizera, apaixonadamente,
Mirando as luzes da consciência.
Mas num lapso criara a iniquidade,
Consumindo tudo, obstinadamente.
E quis pôr fim à sua imprevidência...

sábado, 30 de julho de 2016

Apocalipse - II, por tádzio nanan

Aí, em tua mente, deu-se tudo.
Posta a eternidade do segundo.
Em tua ânsia, o sonho humano afigurou-se,
E o caos, serenamente, organizou-se.
Aí, da tua noite, fez-se o dia,
A ideia absoluta, a fugidia.
Eras tão só, silente, aflito.
Nós somos teu abissal grito.
Hoje, teu coração de pedra imagina
Outra vez a solidão, a ela se inclina.
É assim que os abismos se reencontrarão.
E em tua ígnea face, eterna, atemporal,
Em cujos olhos cintila o além do bem e do mal,
Lá, indistintas, nossas memórias dormirão...

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Apocalipse - I, por tádzio nanan

Antes, quando o homem era lampejo,
Secreto ideal do esfíngico criador
Do espaço-tempo, o ambíguo autor
Da vida e da morte, da entropia e do desejo...
Antes, quando o homem não sonhava,
Quando a ideia da ideia tremeluzia
E a obra do braço humano inexistia,
Déspota incontrastável, Ele reinava...
Antes, quando o verbo estava latente,
Quando o pensamento jazia ausente,
Ele, o absoluto motivo do universo,
Toda a explicação: verso, anverso.
Agora, o homem inverte tudo,
E Deus, taciturno, fica mudo...

domingo, 24 de julho de 2016

GÊNESIS - II, por tádzio nanan

Os dias Dele, um mesmo dia,
Num plano além do espaço,
Onde só solidão e cansaço.
Mas lá, lindo ideal ardia...
Assim, fez luz do luto aterrador,
E sacou a matéria do abstrato,
Num louco e intempestivo ato
De refulgente esperança e amor!
Depois da obra criada:
O homem e sua infinita estrada,
O eterno embate do bem contra o mal,
Lá, no último refúgio astral,
Sentiu-se feliz. Descansou.
E nunca mais acordou!

sábado, 23 de julho de 2016

GÊNESIS - I, por tádzio nanan

No vácuo de sua existência,
Descobriu-se sozinho, desamparado.
A onisciência, quem lhe houvera dado,
A ubiquidade, a onipotência?
E quedou-se meditabundo,
Sem decifrar o íntimo mistério.
Quis renunciar a seu poder, a seu império,
E chorou a dor de um moribundo.
Quis morrer, quis suicidar-se.
Quis que tal noite terminasse.
Matou-se, mas renasceu na solitude...
Quis ficar louco, mas lúcido.
Quis seu negror translúcido.
E maldisse a própria infinitude!


sábado, 9 de julho de 2016

pensamentos do dia, por tádzio nanan

a tal da verdade não passa de um tremendo preconceito

a tal da felicidade não passa de uma tremenda acomodação

a tal da unanimidade não passa de contemporização

a tal da sabedoria não passa de subterfúgio

o gênio não é mais que transpiração

a beleza é só distração