A vida? Ideia fraudulenta; coisa reles, insignificante.
Aterrorizante balé de sombras fugidias, atormentadas.
Desejo e necessidade: as condições que nos foram dadas.
E a sete palmos do chão, tudo estará perdido, adiante...
A vida? Compilação de baldados esforços, coleção de nadas:
Nada de significado, propósito, progresso... Um nada gigante!
O logro da divindade, nossa existencial solidão, a dor sufocante...
Nossas crenças mais caras nos conduzem a direções erradas!
A vida é tão rara, é mística, lúdica, mágica; fruto inaudito
Da evolução da matéria nos tenebrosos vãos do infinito.
Improbabilidades que se conjugam num equilíbrio delicado...
O sentido suplantando o absurdo, a treva amanhecendo luz;
O homem inventando a existência, a história, o ideal da Cruz;
Inventando também a felicidade - sonho ainda aguardado!
Começo a acreditar que posso, sim, fazer a diferença!
Hoje, consigo dizer: eu sou! Tornei-me o que almejava ser!
Entendo, agora, que vim ao mundo para ajudar a esclarecer
E fortemente combater o mal furtivo da descrença!
Começo a acreditar que já possuo a coragem que é preciso ter
Para me contrapor ao obscurantismo de toda medieval crença
E recrutar tropas para enfrentar o niilismo, a espiritual doença.
Com meu exemplo de força e fé também outros haverão de crer!
Acredite também: as brumas vão se dissipar e as luzes voltarão;
Seu cor vai pulsar mais forte, o mundo vai seguir outra rotação;
Tudo conspirará a seu favor: seu corpo, sua alma, sua mente!
Brilha, em seus sonhos, a mágica verdade de que você necessita;
Descerre suas asas, levante voo, vá conquistar a amplidão infinita;
Saiba que você pode, e o mundo o aguarda; de pé, para a frente!
É uma guerra total, embora silenciosa, embora latente.
Todos contra todos, jogando um xadrez nefasto, insidioso.
A meta: galgar posições, ainda que inescrupulosamente.
Quem fraquejar toma o golpe: rápido, certeiro, impiedoso!
Calcular as utilidades: este me pode ser útil, aquele já era...
A regra é achar atalhos para o sucesso, o dinheiro, o poder.
Dia após dia, banqueteamos nossa íntima e insaciável fera,
Até voltarmos à selva, onde só o mais forte há de sobreviver!
Lucrar é a Lei, é a Verdade; atiramos a civilização no atoleiro:
Jogos de interesse; o toma lá, dá cá; a fogueira das vaidades...
Este jogo sórdido só nos trouxe e só nos trará mais desespero!
Os atuais Dez Mandamentos são as mais tóxicas veleidades:
Cultuar a si mesmo, sobrepujar o outro, ostentar, segregar...
Semear diferenças, até que nós já não consigamos amar!