Enfim, eu e a vida assinamos o tão esperado armistício, após décadas de visceral estranhamento, de incompreensão e ressentimentos recíprocos. Agora, seguimos na mesma direção (até uma nova encruzilhada fazer com que optemos, outra vez, por caminhos diversos...). Ambos nos transformamos, evoluímos, aprendemos a ceder para saudavelmente conviver, mas sempre mantendo nossas identidades profundas. Restabelecida a parceria, caminhamos nesta promissora estrada rumo ao futuro. Agora a vida é uma força benigna, que me impele adiante. Eu também me tornei uma força benigna na vida, e cultivo a generosidade com ações e palavras.
Antes, eu e a vida estivemos, quase sempre, em desacordo. Eu era arrogante, vaidoso, imaturo; ela era exígua, mesquinha, cruel. Tentávamos nos impor, nos sobrepor um ao outro. Eu não a compreendia bem, esperava dela coisas que ela não me podia oferecer; ela alimentava preconceitos e desconfianças em relação a mim, injustamente. Isto ocorreu porque temos convicções fortemente arraigadas, e muitas delas não se coadunam, na verdade, se chocam, irradiando energia potencialmente devastadora, energia esta que eu soube inteligentemente canalizar para fins profícuos e benfazejos.
Vivenciando tanto tempo este conflito acabei aprendendo algo importante, embora contraintuitivo: nem sempre estar em oposição à vida significa murchar ou padecer. Às vezes, ocorre o inverso: nesse embate existencial entre a personalidade de um e a realidade de todos, mergulhamos mais fundo em nós mesmos para descobrirmos quem realmente somos, o que realmente queremos, o quanto podemos; rompemos com estruturas petrificadas, superamos pensamentos antiquados; inconformados, imaginamos novas formas de estar no mundo; acostumamo-nos à condições de vida mais austeras; tornamo-nos mais sensíveis às revoluções que acontecem em nosso íntimo e àquelas que acontecem ao nosso redor. Foi quando estive em oposição à vida que me inventei os sonhos mais lindos e sempre em oposição à vida os mimei e alimentei para agora os ver frutificar, cheios de glória.
Às vezes, estar em demasiada sintonia com a vida, receber suas bênçãos e afagos, pode nos desviar do caminho almejado, corromper nossos ideais, amolecer nossos músculos, enfraquecer nosso caráter, pode fazer com que fiquemos satisfeitos demais, sossegados demais, apaziguados demais, quando o assombro, a dúvida, o desassossego são peças fundamentais para a tarefa de produzirmos nossa história tal como realmente a queremos (e é fundamental que o façamos)!
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