domingo, 10 de maio de 2015

CALMARIA, por Tádzio Nanan

Inesperada -e bem-vinda- calmaria...
Já quase esqueço das tempestades que me fizeram companhia anos a fio e alimentaram cotidianamente meu desassossego.
Estranhas sensações florescem em mim agora:  apaziguamento, entendimento, satisfação! Eu que tenho vivido limitado às ruínas de um conflito emocional que semeou confusão e perplexidade em minha vida.
Súbito, as tormentosas vagas da dúvida desembocam num plácido lago, e minha alma se serena. Antigas feridas cicatrizam. Longevas dores são aposentadas. Meus pensamentos amanhecem, iluminam-se. Meus olhos voltam a mirar o céu, esperançosamente.
É uma paz selada entre minhas facções. Aquele embate íntimo perde sentido, é esvaziado em suas causas, não encontra mais razão de existir. Como se finalmente eu me conquistasse por inteiro, fincasse bandeira em cada parte do meu ser, dominasse meus demônios, expulsasse para longe os odiosos exércitos da minha metade negra, do meu anjo contrário.
As fantasmagóricas sombras do passado não me amedrontam mais. Pus o passado no limbo da memória, enterrei-o em auspiciosa e festiva cerimônia. Agora só cultivo as boas lembranças, que me impelem ao futuro. Por muito tempo o passado regeu minha existência, me torturou, me prolongou as noites, mas agora ele não me alcança, o que o fez definhar, pois não se nutre mais da minha alma, da minha carne, do meu sangue.
Devido a esta revolução pessoal (o advento da supracitada calmaria), não me reconheço mais nas palavras dantes escritas, ou nos sonhos de outrora. Aquela personagem desapareceu na cinza das horas, submergiu no mar do tempo, perdeu-se na insignificância das coisas superadas. Tornei-me outro, renasci. Transfiguração repentina mas profunda. Irreversível?
Agora, o mundo se revela -encantador e instigante- ante meus olhos... Quantas formas, cores, sons, caminhos, possibilidades! Ele sempre esteve lá, mas as brumas da dor e do medo o escondiam de mim -e pensar que quase me resignei, quase o renunciei!
Insuperável beleza: o despertar de longa, exaustiva e invernal ausência...

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