Madrugar,
trabalhar, jantar, dormir; não, não é o meu caminho!
Casar,
família, filhos, lar; não, não é o meu caminho!
O caminho
habitual, o consagrado caminho do homem de bem... Não é para mim; sou caótico e
complexo demais para ele, eu o transbordo, ele me reprime.
Será meu
caminho, então, um descaminho (há uma miríade deles)? Dificilmente... Sou muito
medroso; sou meio dado a loucuras, mas tenho forte instinto de autopreservação.
Será meu
caminho o abismo, ou seja, a completa ausência de caminho, o fim prematuro, ou
mesmo o fim autoinfligido?
Ou pode ser
que meu caminho exista por aí, confundindo outros transeuntes, outras almas
perdidas, e eu devo apenas procurá-lo com mais afinco. Sair mais por aí a ver
se as coisas me indicam o caminho, a ver se as pessoas me indicam o caminho. Mas
tenho medo das coisas e desconfio das pessoas...
Pode ser que
um caminho a mim endereçado não exista ainda e eu tenha que criá-lo, abri-lo a
golpes de facão na selva da civilização, ou pintá-lo surrealistamente com as
asas da minha imaginação feérica e nele cair vertiginosamente e lá viver para
sempre.
Enquanto o
caminho não surge neste deserto em que me encontro (quando surja, espero que
não seja miragem), sigo errando delirantemente por mundos e dimensões
paralelas, misturando loucura e sabedoria e fazendo arte desse exótico
encontro.
Sigo
orbitando à minha própria volta – como se eu fosse o planeta e a estrela; sigo
atraindo-me a mim mesmo, como um buraco negro que se engole e se extermina.
Mas sei de
uma coisa: meu caminho sou eu!
Talvez, como
obra inacabada que sou, não mereça (ainda) um caminho (um órfão de caminho!).
Talvez, Deus
esteja esperando que eu me decifre para apontar-me o caminho.
Mas, e se
for isso mesmo: se eu precisar decifrar-me?
Decifrar-se?
Poderá alguém?
A mim é
muito difícil. Por isso meus pais abandonaram-me, por isso meus irmãos
abandonaram-me, por isso meus amigos abandonaram-me, por isso as forças cósmicas
esvaíram-se de mim: eles nunca puderam entender-me e isso os assustou e os
levou para longe.
E com razão:
Sou Eros e
sou Tânato
Sou Prometeu
e Epimeteu
Sou Diógenes
e Alexandre
Sou Hitler e
o Nazareno
A dualidade
encarnada!
Também sei
de outra coisa: o caminho dos outros não sigo, não me interessa. Teimosia? Sim!
Não sigo, não me interessa!
Ou o meu
caminho ou nada!
Ou meus
passos marcados em terra virgem, ou nada!
Não sou dublê
de corpo, não sou dublê de alma!
Sou igual a
todo mundo, mas tenho meus tamanhos infinitos! Eu não caibo nos outros, os
outros não cabem em mim!
Nenhum comentário:
Postar um comentário