Era um poema
errante e flutuava sobre meu lar. Velozmente e com a magia da antigravidade lancei
minha vara de pescar para o céu e o puxei de entre as nuvens. Ele estava
vadiando por aí e encontrou este poetinha vagabundo neste meio-dia da vida. Eu
o senti nas entranhas, apaixonei-me por ele e dele me apossei. Assinei em baixo
sem ser seu autor, o autor dele foi a ventania que batera pouco antes, o tema
dele é o gozo que as folhas das árvores sentem quando o vento passa por elas,
acarinhando-as, fazendo-as assobiar.
Outras vezes,
no entanto, o poema vem das profundezas da alma, das vagas às vezes
tempestuosas às vezes tranquilas do nosso ser. Este tipo de poema leva anos
para se escrever (ele se escreve sozinho, a gente apenas o organiza), porque
ele é consequência da própria evolução de nossa existência, emoções,
entendimento. O poema vai se escrevendo na nossa pele, devagarinho; elaboramos,
sem perceber, um raciocínio que o pertencerá; nossa imaginação vai desenhando
as paisagens que nele estarão contidas; nossa inteligência o vai definindo aos
poucos, e um belo dia ele está no papel, pronto para se entregar aos olhos do
mundo.
O engraçado
é que, muitas vezes, o poeta nem desconfia de que o poema seja ele transfigurado.
É o poeta que está no papel, desnudo, entregue ao
julgamento alheio...
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