Muita gente não diz a que veio
Muita gente vem do medo, para o medo
Nem é gente, de verdade:
É arremedo
Muita gente vem da treva, para a treva
Nem é gente, de verdade:
É selva
Muita gente não transcende suas circunstâncias
E entre elas e a vida vão se abrindo
Insuperáveis distâncias
Repetem palavras, gestos, passos
Almas tímidas, corações escassos
Muita gente é parafuso para essa odiosa engrenagem
Esquece que é fogo e linguagem
É argamassa e tijolo para essa construção social
Vive sem tomar posição
No embate entre o bem e o mal
Está orgulhosa de si
Dos haveres conquistados
Mas, à noite, tenta em vão esquecer
Os sonhos defenestrados
Já eu sou inventor de mim mesmo
Me inventei soldado
Para celebrar, no coração do inimigo,
A paz do Crucificado
Me inventei com asas:
Astronauta, super-herói, passarinho
Para preencher com azul
A falta do teu carinho
Me inventei poeta
Para ampliar meus horizontes
Construindo rimas
Construindo pontes
Me inventei mistério,
Os silêncios e as reticências da vida...
Tudo que for inominável
Me devora e engravida
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