quarta-feira, 30 de abril de 2014

DIÁLOGO COM O ESPELHO, por Tádzio Nanan


Eu que me recusei a caminhar, a construir pontes
Abortei o futuro, erigi um presente repleto de ontens

Que contemporizei, recuei, me escondi, engoli a palavra
Nada tendo germinado da minha lida, da minha lavra

Que busquei tanta coisa, sem conseguir decompor suas substâncias
Levarei ao infinito esta dúvida, esta dor, esta ânsia

Que desacreditei de mim, do Homem, do porvir, imerso num vazio selvagem
Curvei-me ao medo e com ele fiz laços eternos de vassalagem

(me inquirindo ao espelho)

E tu que atravessarias oceanos, desertos, continentes
A ver o novo e o belo, a viver profundamente o que sentes

Que serias profeta, poeta, filósofo, perguntas espraiando
Que a única certeza é a de morrer e estar amando

Que com coragem prometeica ornarias com glória teu sobrenome
Satisfazendo o desejo por imortalidade, este sonho, esta fome

Que de posse dos argumentos exatos conduzirias o povo
À revolução das flores, que traria a primavera do novo 

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