deus me foi
negado! deus me foi negado! Por um líder carismático com suprema autoridade?
Não! Por uma sociedade opressiva que proibiu a religião? Também não!
deus me foi
negado por mim mesmo, pela minha singular arquitetura corpóreo-mental, por cada
célula ativa e cada neurônio vibrante neste “cadáver adiado”. deus foi
subtraído de mim por mim mesmo, pela minha ancestralidade materialista, por
meus genes ateus. Nada na minha inteligência recorre a deus, na verdade, sente
desprezo por tal ideia, por seus seguidores também, rebanho de incautos e
dementes. Cada pensamento meu é dedicado ao acaso, ele é mais crível e mesmo
mais belo que uma suposta intencionalidade universal que redundaria na vida
consciente.
Só que a
questão é outra: meu drama íntimo existe porque minha sensibilidade pede por Ele,
clama por Sua companhia, Seu perdão, Seu sistema moral, que oferecem ordem e sentido
à vida (mas a vida não tem ordem nem sentido, tolinho!).
Minha
materialidade – meu corpo, minha mente, os átomos hereges que em mim se agitam,
o sangue irreligioso que me corre nas veias, jamais me deixarão ser arrebatado
por ele. Meu corpo e minha mente são insensíveis, inflexíveis, rejeitam
fantasias e delírios. Preferem levar-me ao desespero, ou à loucura, se for o
caso, a me ceder o conforto e a serenidade da fé. A fé é um luxo que não está à
minha disposição!
Assim, vivo
uma guerra íntima, entre a eternidade da alma e o instante que fulge para nunca
mais. Parte minha anseia por deus, parte minha gargalha dele, e neste corte profundo
e doloroso as sequelas são confusão sensória e amargura. Eu queria deus, mas
deus me soa absurdo e ridículo!
Meu coração
pede por religião, senão pode ceder à impiedade, ao niilismo. Minha
sensibilidade pede por deus ou poderá enregelar-se na indiferença. Mas minha
inteligência mordaz afirma, de forma peremptória e tonitruante: “pó e sombras, tolinho,
nada mais, nada de mais; som e fúria, tolinho, nada mais, nada de mais!”.
Triste daquele
cuja mente prefere arriscar jogá-lo ao precipício a ofertar-lhe o reconfortante
abraço da fé!
Eu queria
crer, mas deus, a mim, é impossível!
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